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Fatima Cidade

Fatima Cidade

FÁTIMA E A SUA ESPECIFICIDADE

04.06.05, josedusantos

O quotidiano de Fátima é similar ao de outras cidades, a única diferença é a sua especificidade


É bom que, de vez em quando, possamos sentir uma brisa suave a bater-nos no rosto. O problema é quando a brisa se transforma em vento forte, então, podemos ser abanados. Vamos fazer um teste, no final do texto, digam-me se sentiram a brisa ou foram “abanados”.


                                         A minha (?) cerejeira


Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada......


     Ao elaborar este texto, o meu primeiro pensamento vai para aquela canção do saudoso Zeca Afonso, que foi mote daqueles que se opunham ao antigo regime de Salazar. Independentemente de concordar – ou não – com os seus ideais políticos, confesso que sempre admirei a sua coragem e espírito de luta. A minha homenagem para ele e para todos aqueles que fizeram da sua vida uma contenda permanente pelo ideal da democracia.


Em segundo lugar, recordo 1975 - o ano em que plantei esta árvore. Ano histórico para mim e certamente para milhões  de portugueses que ansiavam pela democracia para todos e não apenas para alguns.


Melro e cereja.JPG


Ter uma cerejeira numa rua principal de Fátima, é singular pela positiva e pela negativa. Mesmo assim, sinto-me privilegiado. Desde que a plantei, fui tratando dela o melhor que sabia. Ao longo dos anos reguei-a, podei-a e dediquei-lhe todos os cuidados necessários. E podem crer que dá muito trabalho, especialmente em duas estacões do ano: quando as cerejas começam a amadurar, os pássaros  “aliviam-se”, deixando o chão sujo de excrementos – e se o meu carro estiver à sombra da árvore, já sei que também tenho que o limpar - e as cerejas bicadas, assim como os caroços que depois caem no solo. No outono, com a queda da folha,  quantas vezes eu tenho que as apanhar, nem conto...


cerejas lindas.JPG


Mas devo dizer-vos que também tenho compensações. Na primavera vejo-a florir e depois a ser polenizada pelas abelhas. A flor dá lugar ao aparecimento das minúsculas cerejas que vão crescendo –em simultâneo com a folhagem que entretanto também rebenta – até colorir, a caminho do amadurecimento. Quando começam a amadurar, então tenho “visitas”, muitas visitas. São pássaros, vindos não sei de onde, que procuram o saboroso fruto. Ainda elas estão a  pintar, já os benditos  visitantes andam a debicar. Não há tempo a perder, nem sequer as deixam amadurecer. Melros e pardais, são os principais frequentadores. Os melros são os mais ousados, pois comem na árvore e levam uma no bico –para o caminho ou para os filhotes que têm no ninho. Enquanto há frutos, é festa todos os dias para eles. Sinto prazer em ouvi-los, até me fazem esquecer que são intrometidos. Comem as cerejas,  mas agradecem emitindo a sua única expressão conhecida: o canto. É de facto um prazer ouvir os melros  - e até rouxinóis - a cantar, são melodias de encantar.


Cerejeira outono.JPG


 Por falar em canto e voltando ao tema do saudoso Zeca Afonso: eles comem tudo e não deixam nada, a letra tinha sentido político, referia-se a outros melros:  os poderosos de então, políticos e quejandos. Hoje, este tema está  mais actual ainda, tendo em conta a corrupção que campeia  em quase todos os sectores, principalmente no económico, político e desportivo deste país. Nos melros, eu noto uma característica: comem muitas cerejas, contudo, nunca as comeram todas, sobejaram sempre algumas. Quanto aos outros melros nós não conseguimos sequer ver quando as comem, mas que as papam, isso é certo. Até quando vamos permitir que os melros deste País continuem a comer tudo e não deixar nada? Tem a palavra os leitores.


 


Cerejeira em flor.JPG


  Este texto é dedicado a todos aqueles que se sentem injustiçados e pisados pelos mais poderosos. Que nunca vos falte a coragem de lutar por uma vida melhor. A vida só tem valor quando abraçamos causas e somos capazes de dar a “cara” por elas. Só assim os conseguimos vencer.